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domingo, 2 de outubro de 2011

A Cidade das ilusões perdidas

Quando o meu primeiro antepassado chegou aqui em Itabira no ano de 1710, João Andrade, oriundo de Bastos – Portugal, encontrou uma mata fechada, muita água e um clima ameno, além de toda a riqueza guardada debaixo da terra.

João de Bastos jamais imaginou que rumo iria tomar a terra que adotou, criou sua família e deixou inúmeros descendentes neste rincão, bem como outro descendente dele, Joaquim da Costa Lage, o Major Lage, que toda a sua vida passou por aqui.

Passado esses três séculos, Itabira se transformou sobremaneira e até se tornou berço da grande mineradora, empresa esta que mais sonega impostos ao erário público, mais devastou a natureza em nome do progresso e modernidade, se passa como empresa socialmente responsável e desde 1997 não cumpriu com a sua obrigação de aumentar o volume de água potável e garantir sua qualidade aos moradores.

Passado o tempo em que o Major Lage, também meu antepassado, explorava o ouro nas minas da Conceição e Cauê e procurava cuidar muito bem dos desassistidos da cidade, chegamos ao Século XXI com a extração do minério de ferro nestas mesmas minas e como a mais rentável da grande mineradora, que não por acaso é geradora de muitos empregos, recolhe algo em torno de R$250 milhões (100 milhões de Euros) em royalties pela exploração mineraria aos cofres públicos municipais e sempre tem boas desculpas quando questionada a respeito das LOC (licença operacional corretiva) não concluídas ou mesmo iniciadas.

Essa grande mineradora diz que gostaria de apoiar projetos socioculturais dos cidadãos itabiranos, porém, por meio de muita desfaçatez não informa realmente quais os critérios de elaboração dos projetos a serem apresentados a ela para que passe a apoiá-los principalmente financeiramente, como forma de mitigar todos os problemas que provoca na cidade, passando pelo abuso econômico ao não estabelecer as LOC, da saúde pelo excesso de poeira que provoca na cidade com as lavras abertas e culturalmente quando estimula grandes migrações sem, contudo, promover condições para que a cultura autóctone não se perca.

Invariavelmente a grande mineradora importa produções culturais para depois sair dizendo que os cidadãos itabiranos nunca apresentam nada a ela, ou seja, além de não dar condições aos agentes culturais locais ainda vem com o desmerecimento das pessoas que aqui vivem e desejam melhor situação à cidade e os demais moradores.

Da parte da administração pública municipal, as falácias são ainda maiores. A propaganda governamental é que esta cidade é a do “bem viver”; não informa claramente como gasta todo o orçamento anual que tem, passando pelos royalties a receita municipal atinge algo em torno de R$350 milhões anuais.

Esta administração atual é tão inepta que mesmo com este polpudo orçamento não consegue manter políticas públicas básicas em funcionamento, a saber:

-a política cultural é inexistente a ponto de manter dois pontos de cultura, a Casa do Brás e o Museu Municipal, após serem reformados, fechados por mais de um ano e não consegue esboçar um nada para a reabertura deles;

-o repasse para a Lei Drummond é pouco mais do que nada, verdadeira tutameia;

-os demais pontos de cultura, invariavelmente ficam fechados aos domingos por falta de atendente ao público e, quando estão abertos, são espaços sem vida;

-o Teatro Municipal, que leva nome de outro descente do João Andrade, deveria ser interditado pela vigilância sanitária pelo simples fato de suas portas quase nunca se abrirem ocasionando um mofo, um bolor insuportável e totalmente prejudicial à saúde de qualquer asmático que lá adentrar;

-o COMPHAI (Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Artístico de Itabira) é um amontoado de gente e foi formado só para inglês ver, haja visto que esta atual administração vem locupletando o recurso do ICMS Imposto de circulação de mercadorias e serviços) Cultural para uso sem especificação em detrimento da preservação do casario tombado por este conselho por três anos consecutivos; existem casas que estão tombando literalmente e precisa da Promotoria de Justiça impingir a força da lei para que alguma atitude seja tomada;

-o calçamento em pedra de minério e granito do Paredão, Rua Princesa Isabel e Major Paulo estão desmanchando por pura falta de manutenção, apesar de serem patrimônios tombados;

-algumas ruas que estão sendo reformadas, a citar Rua Santana e Monsenhor Júlio Engrácia, são com verba do Governo do Estado;

-o Casarão do Hospital Velho, construído pelo Carlos Cassimiro da Cunha Andrade, também descente do João, adquirido pelo Município junto à Irmandade Nossa Senhora das Dores está em ruínas e será mais um bem histórico que se desmoronar ficará na história local somente em fotografias;

-o CODEMA (Conselho de Defesa do Meio Ambiente) mesmo aplicando multas consideráveis na grande mineradora e devastadora local, está aprovando a captação d´agua no Rio Tanque para consumo humano local sem antes promover a preservação da cabeceira e restabelecimento das matas ciliares no percurso local, além de não cobrar um posicionamento efetivo daquela mineradora quanto à LOC da água ainda não resolvida;

- o COMTUR (Conselho Municipal de Turismo) é o pior deles e está ali somente para inglês ver mesmo! Nesta semana fomos tomados de assalto a partir da informação que nossa Itabira está fora da lista das cidades que receberão repasse do Governo do Estado da verba destinado ao ICMS do Turismo. De acordo com a entrevista do nosso secretário de turismo, o seu pessoal perdeu o prazo para protocolar o dossiê e não me interessa as razões dele e da omissão generalizada do COMTUR com relação a este fato, mas somente as consequências que advirem pela total incapacidade deles em apresentar à Secretaria Estadual de Turismo de Minas Gerais a proposta para que nossa cidade participasse deste programa estadual;

Por conta desta falta de atitude positiva da secretaria municipal de turismo, temos presenciado algumas pessoas simplesmente vivendo debaixo do Vagão abandonado, cozinhando e lavando roupas na entrada do Parque da Água Santa. A desculpa é a de sempre, a prefeitura de Itabira não faz a manutenção por falta de recursos (são R$350 milhões anuais!) e quando tem uma oportunidade a menospreza.

Pois bem, são muitas ilusões perdidas e creio eu que João de Bastos, quando aqui chegou e ficou, imaginava que poderia contribuir para que esta sua nova terra realmente fosse um lugar para “o bem viver!”

Outro antepassado meu que estaria totalmente perplexo é o José Luís Rodrigues de Moura, o mesmo que trabalhou e conseguiu o intento como vereador itabirano na separação de Itabira de Caeté em 1833. Pelo histórico dos posicionamentos dele, todos registrados nos arquivos guardados no Museu, não aceitaria de maneira alguma a leviandade da atual câmara de vereadores, a lentidão dos secretários municipais em atender as necessidades da cidade e muito menos a indolência do atual prefeito e sua política de compadresco.

Infelizmente sinto muito e peço desculpa a todos em não poder apresentar algo de melhor de minha terra natal neste atual momento de falta de memória e circunstância mais favorável a todos que aqui vivem, pois são muitas ilusões perdidas no passado e falta de esperança no futuro de Itabira.

Itabira completa no próximo dia Nove mais um ano de independência como cidade - 09/10/1848.

5 comentários:

  1. os cães ladram e a caravana passa

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  2. Como cidadão eu tento fazer a minha parte e você?

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  3. Para quem se importa, vale ouvir OS VAMPIROS do Zeca Afonso e comentários do Zé Mário Branco:
    http://www.youtube.com/watch?v=B0yCcWxfBUw

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  4. O Mauro apresentou com REALISMO FANTÁSTISCO a cidade do 'BEM VIVER' na qual muitos estão tentando sobreviver e enquanto isto, a atual administração gasta somas estratosféricas em publicidade para mostrar o VIRTUALISMO pouco DIDÁTICO e nada PRÁTICO do que serve apenas como propaganda e nada mais em termos de feitos em todos esses longos anos de a d m i n i s t r a ç ã o.

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