Who's amoung us?

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Os desvalidos

Nestes trezentos anos de exploração mineraria em Itabira, já foi feito de tudo com o uso e o abuso dos mananciais d’agua da c idade.

Itabira é uma região de nascentes, com exceção de alguns poucos lugares em que há falta d’agua ocasional, em toda região a disponibilidade deste precioso mineral com certa abundância, desde que o uso seja racional.

No passado havia os moinhos d’agua, tanto para moer milhos quanto pepitas de ouro e a lavagem deste. As forjas instaladas a partir de 1816 tinham o uso continuado de água para movimentar os foles e caldeiras e após, com o surgimento das fábricas de tecido, as mesmas eram grandes usuárias de água, sendo a partir da geração de energia elétrica para o uso nos teares, bem como na lavação dos fios de algodão.

Com a Segunda Grande Guerra, chega-nos a mineradora Vale do Rio Doce, instaladas aos pés do ex Pico do Cauê, sendo este grande vertedouro de água para toda a área urbana de Itabira e juntamente a migração de operários a trabalhar na extração do minério de ferro, que naquela época era exportado em estado bruto.

Aumentando substancialmente a população local, começaram os problemas de contaminação dos antigos poços artesianos e córregos, sendo que após estes setenta anos de migração, praticamente toda a água na área urbana de Itabira encontra-se contaminada e até o momento não vislumbramos quando realmente o esgoto sanitário será captado e enviado à ETE no Laboriaux, para que esta estação de tratamento de esgotos que custou uma fábula dos cofres públicos inicie o seu funcionamento.

Da parte da mineração, no fim dos anos 1950 e início dos anos 1960, mudou-se o sistema de extração do minério de ferro, foram instalados os britadores (grandes moedores das pedras) para que a Vale, em sua operação industrial, passasse a concentrar os vários tipos de minérios de ferro em pó, desprezando a sílica e outros minerais de menor interesse.

Com o novo sistema, o uso da água é intensivo, pois para separar os minerais e a sílica, é necessário que se lave todo o produto para apurá-lo. Daí é que iniciou o drama em Itabira no uso da água e a sua disponibilidade à população que cresce constantemente muito em função da própria mineração.

As forjas do Girau foram desligadas porque aquela pequena e centenária indústria perdeu sua mão de obra para a mineradora. A fábrica de tecidos da Pedreira teve de ser vendida para a mineradora para que onde funcionava, fosse implantada a grande represa do Santana e daí bombeado o maior volume de água para a usina de concentração de minério do Cauê. A pior lástima foi o fechamento da fábrica de tecidos da Gabiroba, que simplesmente teve de desligar seus teares pela mera falta d’agua, pois o Rio do Peixe que lá passa desce das barras do Itabiruçú e do ex Pico e hoje monte da Conceição e começou a chegar na Gabiroba somente lama, assim sendo inviabilizando o funcionamento daquela quase centenária indústria local.

Passados vinte anos deste drama da Gabiroba, surge outro de grande monta e que afeta a todos nós itabiranos. Em meados dos anos 1980, com a abertura da Cava do Cauê, o lençol freático da área urbana de Itabira foi rebaixado em setenta metros, ocasionando o secamento de várias fontes e poços artesianos da cidade, uma lástima! Maria Alice, presidente do CODEMA naquela altura, que já havia vivenciado todo este problema da falta d’agua lá na Gabiroba, por ser herdeira da mesma, concentrou todos os seus esforços pessoais para conter este rebaixamento ou criar meios de compensação, bem que tentou, mas considero que não obteve o êxito desejado e necessário à comunidade.

Passados outros vinte anos, fizeram o alteamento da Barragem do Santana e aí entra a Santa Maria do Itabira na lista dos desvalidos, pois em certo momento a falta d’agua no Rio Girau, que passa no centro daquela cidade, foi tanta que praticamente só escorria no antigo leito do rio o esgoto sanitário da cidade. Além deste alteamento, presenciamos a mudança do clube Real, que foi obrigado a deixar as antigas instalações por conta do alteamento e total assoreamento da Barragem do Itabiruçú.

Recentemente a Vale, para atender suas necessidades de extração mineral nas Minas do Meio/Camarinha, protocolou pedido para mais um rebaixamento do lençol freático que irá afetar ainda mais o centro da cidade, pois desta vez este rebaixamento terá a profundidade em mais 200 metros.

Ontem, dia 21/6, tivemos a votação de alteração do Plano Diretor, autorizando a diminuição dos lotes e uso urbano da APA da Pureza. Para tentar melhorar o volume d’agua naquela região foi implantado o projeto ambiental Mãe D’agua, com base na antiga fazendo do Posto Agropecuário, que possui inúmeras nascentes e é grande fornecedora de água com o Córrego Mãe D’agua, afluente do Ribeirão Pureza.

Bem, nestes trezentos anos, o uso da água em Itabira sempre foi intensivo, apesar de parecer que não, pois como temos muita água não se percebe todo este uso, porém a cada dia que se passa a necessidade é mais premente e o recurso para manter o nível à comunidade é importar mais água, sendo do Ribeirão dos Gatos, que já não dá mais conta, do Rio Santa Bárbara na divisa com Bela Vista de Minas ou do Rio Tanque na divisa com Itambé do Mato Dentro. Tudo muito longe e muito custoso, onerando cada vez mais a população com os custos elevados desta captação de água em benefício da extração mineral em que os lucros da venda destes não são repassados à comunidade.

A LOC – licença operacional corretiva – da água, assinada em acordo entre a Vale do Rio Doce e o Município de Itabira foi realizada uma mínima parte, não se apresenta um cronograma do prosseguimento desta permuta, quanto a mineradora paga mensalmente pelo uso de todo o grande volume de água que utiliza e muito menos como será resolvido este grande problema de todos nós, os desvalidos sem água.

Um comentário:

  1. Mauro, a Interassociação realizou, no ano passado, uma reunião com representantes da Vale, Prefeitura e Comunidade para discutir justamente esta questão da Licença de Operação Corretiva da Água, época em que o prazo para cumprimento desta condicionante EXPIROU. Foi cobrado da mineradora explicação sobre o que a empresa realizou. O representante da Vale disse que no acordo consta que a Prefeitura era a responsável pela elaboração do projeto e a Vale, pela execução e que NENHUM projeto havia sido apresentado pelo governo. E, os senhores vereadores que deveriam acompanhar o processo e COBRAR da prefeitura, nada fizeram. Ou seja, estamos desvalidos, sim, de administradores públicos! Como a Vale agiu de acordo com a condicionante da água e o prazo expirou... a mineradora sai desta história de alma "lavada" (desculpe o trocadilho).

    ResponderExcluir

São aceitos comentários com autoria não identificada (anônimos), desde que não exponham ou citem nomes de pessoas ou instituições de formas pejorativa, caluniosa, injuriosa ou difamatória e mesmo que sejam expostos de forma subliminar ou velada.

Durante o período eleitoral, não serão publicados comentários que citem nomes de candidatos, nem de forma elogiosa, nem crítica.

Caso queira postar uma denúncia, é necessária a identificação do autor (nome completo e e-mail para contato), para que o comentário seja validado. Caso não possa se expor, envie um e-mail para a editoria (contatoitafq@yahoo.com.br), para que a denúncia seja apurada e certificarmos que há condições legais e justas para pautarmos uma postagem.

EM FASE EXPERIMENTAL: Os interessados que tiverem conta no Facebook e que não queiram seus comentários submetidos à moderação podem solicitar as suas inclusões no grupo de discussões "Filhos das Minas", ou, caso já seja participante dele, basta postar seu comentário diretamente no Facebook.

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.